sexta-feira, 7 de dezembro de 2012


06/12/2012

Os traços de Oscar Niemeyer e a Igreja Evangélica Confissão Luterana no Brasil


Edifício e Galeria Califórnia
Oscar Niemeyer nos deixou. O povo brasileiro teve na sua pessoa um de seus maiores representantes na arquitetura. Ele deu visibilidade ao Brasil, tornando-se um grande embaixador por meio de seus projetos arquitetônicos.
Os traços de suas obras encantam as pessoas pela sua originalidade e criatividade. As curvas, que o consagraram estão presentes em quase todos os seus projetos. E a IECLB convive com elas ao longo de décadas. Uma vez, as tomando emprestado para o seu símbolo identificador e, outra vez, abrigando a sede administrativa de um de seus sínodos.
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Corria o ano da graça de 1969. Decidira-se a realização da V Assembleia da Federação Luterana Mundial no Brasil, mais precisamente, em Porto Alegre/RS. Grande expectativa cercava o evento, marcado para julho de 1970. Pela primeira vez a assembleia aconteceria no hemisfério sul, num contexto do terceiro mundo, como se dizia na época. E o tema era sugestivo e desafiador – Enviados ao Mundo.
Comitês locais foram constituídos, estudos nas comunidades, campanhas de arrecadação de recursos, preparação de um grande Dia da Igreja no espaço da Feira Nacional de Calçados – FENAC em Novo Hamburgo/RS, enfim, uma grande animação e mobilização perpassava a novel Igreja.
O cartaz de divulgação da assembleia apresentava a cruz sobre o globo no interior do desenho das colunas do Palácio da Alvorada. Ele sintonizava com o sentimento de orgulho de milhares de pessoas que viam na capital Brasília e na obra arquitetônica de Oscar Niemeyer uma marca do desenvolvimento brasileiro e um sinal de modernidade.
A Assembleia foi transferida por causa da grande pressão de igrejas-membro da Federação Luterana Mundial que condenavam o Brasil pela violação dos direitos humanos. Grande frustração se abateu sobre lideranças e comunidades. Um processo de auto-crítica se seguiu e dele resultou o Manifesto de Curitiba – um posicionamento corajoso sobre a realidade política brasileira. Anos mais tarde o desenho do cartaz da Assembleia transferida deu origem à logomarca, o símbolo da IECLB.
Sagrado e profano; terra e céu; fé e política; igreja e poder; horizontalidade e verticalidade; contexto e mensagem; a cruz e a política; alvorada a partir da cruz; cruz, mundo e palácio; palácio, mundo e cruz; mundo, palácio e cruz – muitas podem ser as referências e as chaves interpretativas da logomarca.
Independente de qualquer uma delas, verdade é que o símbolo está estampado em milhares de documentos e ela orna fachadas de templos e centros comunitários espalhados pelo Brasil inteiro. Ela identifica a Igreja e indica a presença de pessoas que testemunham a fé evangélica na perspectiva da confissão luterana.
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Corria o ano da graça de 2001. A IECLB realizara uma restruturação em 1997 e, a partir dela, os Distritos Eclesiásticos e Regiões Eclesiásticas deram lugar a 18 sínodos. 
As comunidades do Rio de Janeiro, parte de Minas Gerais e parte de São Paulo formaram o Sínodo Sudeste com sede em São Paulo. Em termos patrimoniais, foi adquirido um apartamento funcional em 1999 no centro de São Paulo, faltando ainda uma sede administrativa para as atividades sinodais.
A conversa em uma imobiliária resultou na visita a uma sala em um edifício comercial. Como a sala atendia às necessidades do sínodo,  ela foi adquirida, reformada e adaptada. Durante a reforma descobre-se que as paredes e os corredores não apresentavam ângulos retos. Uma imensa coluna cilíndrica, próxima a janelas bem amplas, “invadia” o espaço da sala. Por uma lado, ela tornava a instalação de divisórias um grande quebra-cabeça, mas, por outro lado, conferia uma leveza ao ambiente, dando a impressão de que a sala estava suspensa no ar. 
E eis que neste momento aconteceu a revelação: o prédio em que estava a nova sede do Sínodo Sudeste, era um projeto de Oscar Niemeyer. O Edifício e Galeria Califórnia, projetado em 1951 e inaugurado em 1955, tem na fachada colunas em “V”. Elas avançam da entrada do prédio para uma galeria comercial. Em uma parede lateral encontra-se um painel de Cândido Portinari. No segundo andar há um jardim de inverno que recebeu uma pintura Aves Brasileiras de Di Cavalcanti. Ele não pode ser visitado, mas a pintura pode ser vista das janelas dos pisos superiores.
O centro de São Paulo sofreu a partir dos anos 70 um grande esvaziamento. Empobreceu e muitos imóveis ficaram vazios. Na virada do século iniciou um movimento de re-habitação com reformas e restaurações. A presença da sede sinodal neste contexto é bastante emblemática. Ela sinaliza que a articulação e a coordenação do trabalho da IECLB, num contexto em que se localizam as maiores cidades brasileiras, leva em consideração a realidade contraditória e sofrida das metrópoles. A sede fica numa região em que durante 24 horas desfilam personagens muito diferentes nos mais diversos cenários: filas de pessoas que buscam emprego, pessoas em situação de rua, prostituição, escritórios, prestadores de serviços, atividades de lazer e de cultura, etc. etc.
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Por caminhos tão diversos e surpreendentes a IECLB se encontrou com Oscar Niemeyer - o arquiteto, o poeta e o humanista. Que a leveza nas formas  inspire sempre a sua caminhada!

Rolf Schünemann

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